top of page

Resenha | O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye), de J.D. Salinger.



Ficha Técnica

Título: O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye)

Autor(a): Jerome David Salinger

Edição: 2012

Ano de publicação: 1951

Páginas: 208

Editora: Editora do Autor.

Publicado em 1951, O Apanhador no Campo de Centeio, de Jerome David Salinger vai ser narrado em primeira pessoa por seu protagonista adolescente, Holden Caulfield. O Apanhador no Campo de Centeio é um dos mais importantes clássicos da literatura americana.


Passei anos louca para lê-lo, mas nunca o fiz, pela simples desculpa de que não o podia fazer se não o fosse com um exemplar físico, porém nunca conseguia compra-lo, por causa do preço exorbitante. Semanas atrás, joguei essa desculpa para o alto e comecei a ler O Apanhador pelo Kindle.


Como dizia anteriormente, o livro é narrado em primeira pessoa pelo Holden Caulfield, que tem 16 anos e mora em Nova York. Holden é quem nos apresenta à narrativa. E logo nos damos com sua realidade constante: ser expulso dos colégios pelos quais passa.


Logo vemos que Holden se trata de um adolescente inconsequente, sem causa, que vive reclamando de tudo e de todos. Eu muitas vezes me identifiquei com ele devido a seu temperamento, mas ele me superou em todos os aspectos. Ele é questionador, solitário, altamente exigente e tem uma crença veemente de que os adultos são hipócritas. Ele repete isso muitas vezes no decorrer do livro.


Ah, outra coisa que é importante ressaltar aqui, Holden é bastante repetitivo. Ele está sempre usando de expressões linguísticas e gírias da época em que vivia. A narrativa possui uma linguagem simples, que qualquer um consegue facilmente entender. Vejam se conseguem o imaginar enquanto o desenho para vocês: uma criatura estranha que teimava em usar um chapéu de caça e que normalmente tinha um cigarro em seus lábios.


A narrativa se passa entre o período em que Holden será expulso do colégio interno e os dias sucessivos a este evento em que passa zanzando e perambulando por Nova York. Holden decide ir embora antes de ser expulso pelo diretor. Na calada da noite, ele pega suas coisas e mete o pé. Trata-se de uma narrativa curta, mas que por causa das descrições e reflexões de Holden tornam a narrativa um pouco parada.


Chateado, como comumente ele é, vive se queixando dos professores que teve, dos colegas de internato, dos pais, do irmão mais velho D.B, mas nunca de seu irmãozinho Allie, falecido e sua irmãzinha Phoebe, por quem tem uma profunda admiração. Talvez por que eles não sejam adultos e sim crianças? Talvez porque sendo crianças possuem a ingenuidade e a inocência da infância? À medida que lemos, percebemos que nosso protagonista preza por essas virtudes.




No decorrer do livro aparecem dois professores, um do atual colégio interno onde ele estava estudando e outro de um passado, todos os dois tentam lhe inculcar conselhos, tentam lhe fazer enxergar que seu tempo está se esgotando, que sua rebeldia sem causa terá preço num futuro próximo, mas Holden não se importa. Sai correndo com seu chapéu de caça e zanza por bares, espeluncas chamadas de hotéis e meio mundo de lugares.



Volta e meia ele nos assaltava com reflexões infundadas, como, por exemplo: Pra onde os patos do lago onde visitava no Central Park vão quando o inverno chega e o lago congela? Ele até chega a questionar taxistas sobre isso, mas todos eles o repreendem, dizem estupefatos o que diabos é aquela questão maldita que ele lhes faz.


Rebelde sem causa, Holden é aquele típico adolescente de espírito livre que não quer e tem horror de um dia vir a tornar adulto. Tentei gostar de Holden, mas suas constantes queixas, muitas vezes sem nexo só me fizeram desgostar ainda mais dele. Talvez empregar rebelde sem causa a Holden seja muito pesado e injusto, já que o jovem está em busca constante por profundidade. Ele abomina qualquer tipo ou demonstração de superficialidade.



“O Pencey (colégio ao qual Holden estava estudando) estava cheio de vigaristas. A maioria dos alunos vinha de famílias riquíssimas, mas assim mesmo o colégio estava cheio de ladrões. Quanto mais caro o colégio, mais gente safada tem, no duro.”



Lá pro final do livro, quando Holden reencontra sua irmãzinha Phoebe e ela o interpela o que ela faria, já que nada o interessava, ele nos presenteia, com talvez a melhor parte da narrativa. Em meio a uma epifania, Holden nos descreve um vasto campo de centeio, onde inúmeras criancinhas vagueiam por ele, de um lado, no fundo está um abismo, que seria a vida adulta e ele está a postos na beira desse abismo para impedir que as crianças cruzem o campo de centeio que seria a infância para o abismo da vida adulta. Para mim, somente essa epifania, esse pensamento puro fazem valer a pena sentar e ler este livro. E é a partir dessa epifania que entendemos o real sentido do título do livro.




É tão sofrido quando sua irmã, Phoebe lhe diz com uma lucidez impactante que Holden não gosta de ninguém, que não sente prazer em nada e em ninguém. Ele nega enfático, diz que não é solitário e isso o deprime muito, porque passa a perceber o quão sozinho é.


Seus devaneios de uma vida longe da cidade, no mato só mostram a necessidade louca de Holden de fugir da vida adulta. Ele não quer voltar pra escola, não quer fazer universidade, onde bandos de marmanjos hipócritas se acham os tais. Ele coordena inúmeros planos de como seria se fugisse, mas nunca os faz, porque é um covarde, e ele mesmo assume isso.


Sua rebeldia, sua ingenuidade, sua profunda vontade de querer permanecer congelado como o que é, um adolescente, o torna um exemplo da essência que cada adolescente carrega em seu espírito. O medo, o receio de crescer e ter que enfrentar sozinho aos obstáculos da vida são genuínos.


O Apanhador no Campo de Centeio te faz olhar para trás e rever sua adolescência e infância, dependendo da idade que estará lendo. Me senti culpada por não gostar tanto assim do protagonista e assisti a inúmeras resenhas em vídeo sobre o personagem e o livro e enfim me senti aliviada, pois este livro se trata de um daqueles que ou se ama ou se odeia. Não sou tão dramática ao ponto de odiá-lo, porque a epifania do Holden o salvou, mas amar já é demais.

Comentarios


Inscreva aqui e nunca perca uma atualização

  • White Facebook Icon
  • White Instagram Icon
  • White Twitter Icon

© 2018 JC | Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page