Coluna | O assunto proibido da mídia, o segredinho torpe e obscuro que espreita as escolas
- Isabela Lima
- 31 de mai. de 2018
- 4 min de leitura
O assunto proibido da mídia, o segredinho torpe e obscuro que espreita as escolas: a ignorância e a banalização do suicídio.
Primeira coluna do site e achei bastante válido e necessário uma coluna que abordasse esse assunto. Mesmo que estejamos em uma constante torrente de informações por todos os lados, consequência da convergência de mídias: TV, redes sociais, impresso e afins, mesmo que já se tenha discutido sobre o tema abertamente no Programa Encontro com Fátima Bernardes no período da manhã, ainda assim o suicídio é considerado e tratado como tabu.
Não é a toa, o suicídio é um assunto delicado, pesado, mas nem por isso deve ser evitado. Consequência da depressão e de outros transtornos mentais ou até mesmo sem relação alguma, o suicídio têm sido mantido coberto pela mídia, assim como vem sendo ignorado nas escolas.
O suicídio é a terceira causa que mais mata jovens no Brasil, perdendo para drogas e acidentes de trânsito.

Psicólogos salientam a importância das escolas estarem preparadas para abordar esse assunto nas salas de aula, porque continuar ignorando e empurrando com a barriga não vai fazer desaparecer o problema, mas sim continuar instigando mais e mais suicídios.
Os jovens estão passando por um turbilhão de coisas, de hormônios, de primeiras sensações, de primeiras experiências. Tudo para eles é intenso e novo. Ainda não sabem como lidar com suas emoções e podem acabar rumando para caminhos auto-destrutivos.
Eu já li vários livros de ficção que relatam o suicídio e em nenhum deles vi a figura da escola que toma a iniciativa e decide falar sobre o assunto. Por exemplo, o sucesso do momento, 13 Reasons Why (Os Treze Porquês em tradução livre) que tornou-se série da Netflix ano passado aborda o suicídio de uma garota.
Nós vemos que há um conselheiro que conversa com os estudantes, mas só aqueles que estão demonstrando, dando a entender que necessitam de um cuidado maior. Porém o que acaba se vendo é a falta de preparo desses profissionais.
Aquém do conselheiro, toda a escola se mantem neutra e quando o suicídio da adolescente acontece, ninguém sabe o que aconteceu. Mas o que mostra dá um claro exemplo do que acontece na vida real. E quando não sabem o que fazer, resolvem simplesmente ignorar. Tentam amenizar o clima, mas não mudam o ambiente escolar que continua o mesmo: sombrio e opressor.

Sabemos também que essa instituição citada em Os Treze Porquês é uma das raras, porque ao menos nas instituições públicas brasileiras não encontrei profissionais específicos para tratar desses assuntos.
Em O Último Adeus, de Cynthia Hand vemos a total passividade da instituição escolar diante do suicídio de dois de seus estudantes. Saem tirando todos os rastros que os jovens que se mataram deixaram em cada cômodo, como se tirando, fosse exterminar ou apagar o que aconteceu.
A escola está voltada para à formação de seres humanos, sendo assim seria válido se o professor(a) fosse instruído a reconhecer e identificar comportamentos que denunciem uma conduta suicida ou depressiva.
Todos os especialistas são enfáticos quanto ao pensamento e as tendências suicidas. Os pensamentos preveem uma ação. Nesse momento a pessoa mostra sinais para os que estão ao redor. É um pedido de ajuda mudo e silencioso que requer preparo dos profissionais das escolas.
Claro que o ambiente do lar em que vivem também é muito importante para esses jovens, mas eles costumam passar um tempo maior na escola e é exatamente lá que muitas vezes eles costumam dar sinais do que estão passando ou sentindo.
Profissionais instruídos e capacitados para lidar com essa situação dentro do ambiente escolar iria dar uma sensação de segurança e proteção aos jovens que circulam diariamente por ali e consequentemente isso iria aparecer nas estatísticas alarmantes de suicídio entre jovens.
É necessário também haver uma desconstrução e desestigmatização da depressão, dos transtornos mentais, assim como do suicídio. As pessoas que por um momento pensam nessa possibilidade não o fazem por egoísmo, por motivos bobos ou fúteis (pode até

parecer fútil de fora, mas para a pessoa que está convivendo com aquele drama é difícil enxergar de uma outra perspectiva que não daquela); elas também não o fazem ou pensam em fazer porque querem chamar a atenção (talvez sim em alguns casos, pessoas se suicidam para tentar mostrar as pessoas ao seu redor, seja familiares, amigos que precisava de ajuda, mas ninguém a ouvia), por isso é necessário saber ouvir e principalmente identificar quando comportamentos desse tipo acontecerem ao seu redor. As pessoas que pensam nessa opção estão contaminadas em sua própria dor e não conseguem enxergar muita coisa além disso, por isso é preciso calma e paciência. Essas pessoas só precisam de atenção, cuidado, carinho e muito amor.
Muitos morrem diante da negligência cega dos pais, que atolados em suas rotinas de trabalho não enxergam que seu filho(a) está passando por algo tão pesado sozinho. Acontece também de muitas vezes os pais saberem, mas não darem importância, porque a sociedade criou um estigma em torno da depressão, como coisa de preguiçoso, de gente que precisa se ocupar, de gente que precisa de Deus e outras desculpas esfarrapadas que costumam dar.
Essas desculpas, essas respostas prontas são carregadas de insensibilidade e falta de empatia. Basta colocar-se no outro. Cada um tem sua própria cruz. Não subestime, não zombe, nem tampouco xingue. Seja sensível.

É muito fácil dizer que é necessário se ocupar para não cair nisso, muito fácil quando você está de fora e não vê a luta diária que uma pessoa com depressão enfrenta todas as vezes em que acorda e não consegue ir tomar um simples banho, ou pentear os cabelos ou pintar as unhas. Coisas simples que demandam muito mais esforço e afinco dessa pessoa.
É muito fácil dizer que isso é falta de Deus na vida, mas olha que interessante, às vezes até mesmo pessoas que são assíduas em sua religião acabam ficando depressivas. (15% e 20% de mulheres cristãs possuem depressão pior do que em mulheres não religiosas) Não é falta de Deus, é falta de amor, de pessoas atenciosas que possam acolher e cuidar dessa pessoa. Não é falta de Deus e sim de um profissional capacitado que saiba lidar com a doença que a pessoa tiver.
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